Orientação pelo Cruzeiro do Sul
A constelação Cruzeiro do Sul é uma das mais conhecidas, principalmente para os habitantes do hemisfério Sul da Terra e particularmente para nós, brasileiros.
Este texto surgiu como sub-produto da elaboração de uma apresentação para o Planetário, no ano 2000, onde abordava-se o Descobrimento do Brasil e mostrava-se o céu de 1500, contemplado pelos navegadores ibéricos ao se aventurarem ao Sul do Equador.
Este texto surgiu como sub-produto da elaboração de uma apresentação para o Planetário, no ano 2000, onde abordava-se o Descobrimento do Brasil e mostrava-se o céu de 1500, contemplado pelos navegadores ibéricos ao se aventurarem ao Sul do Equador.
Presente no brasão das Armas Nacionais, no emblema do Exército e na Bandeira Nacional do Brasil , a constelação Cruzeiro do Sul — a Cruz Austral — está entre os símbolos mais conhecidos e mais usados pelos povos que habitam o hemisfério Sul da Terra.
Ele é representado, também, na bandeira do Estado do Paraná e no pavilhão de mais 4 países — Austrália, Nova Zelândia, Papua-Nova Guiné e Samoa Ocidental — além de estar presente em versos de canções populares, do Hino Nacional Brasileiro e do Hino à Bandeira do Brasil.
O Cruzeiro do Sul, cujo nome em latim é Crux Australis e cujo nome oficial atual é, simplesmente, Crux, é uma das mais importantes das 88 constelações reconhecidas oficialmente pela U.A.I. — União Astronômica Internacional —, apesar de ser a menor de todas elas. Sua área angular é 68 graus quadrados; cerca de 19 vezes menor que a da constelação Hydra, a maior de todas, cuja área é 1303 graus quadrados.
É, também, uma constelação relativamente recente. Quase que completamente ignorada pelas grandes civilizações do passado e mesmo pelos povos europeus até há poucos séculos.
No hemisfério sul da Terra, ao contrário, o Cruzeiro é facilmente observado, estando suas estrelas entre as mais brilhantes de todo o céu. No Brasil, entre os meses de março e setembro, ele pode ser visto no início das noites de quase todas as regiões. Particularmente nas latitudes próximas do Trópico de Capricórnio (em todo o território do estado São Paulo), entre maio e julho, ele pode ser visto no início da noite, por volta das 20h, bem alto acima do horizonte Sul. Em junho, em latitudes próximas ao Trópico de Capricórnio, nesse horário, olhando em direção ao Sul, mais ou menos a uns 60º de altura, pode-se encontrar com facilidade as 5 estrelas do Cruzeiro, com o braço maior da cruz quase na vertical, apontando para o Ponto Cardeal Sul.
Como muitas vezes acontece, há uma intrometida na história. Neste caso, a intrometida é bem-vinda. É uma estrela que ajuda a reconhecer uma das mais importantes constelações do céu: o Cruzeiro do Sul. Por ele, os antigos navegadores se orientavam e nós, hoje, podemos fazer o mesmo, descobrindo os pontos cardeais!
Constelações, você já deve saber, são grupos de estrelas que vemos aparentemente próximas entre si. Diz-se aparentemente porque, na realidade, todas as estrelas estão muito longe umas das outras - a distâncias que superam dezenas de trilhões de quilômetros. Só para nós, que as observamos aqui da Terra, elas parecem assim... vizinhas!
Pois as estrelas “vizinhas” que formam o desenho de uma cruz são cinco. Elas receberam o nome de Cruzeiro do Sul no período das grandes navegações e da descoberta do Brasil, por volta do ano 1500.
Você já observou no céu a constelação do Cruzeiro do Sul? Se não, é muito fácil encontrá-la. Perto dela, existem duas estrelas muito brilhantes, conhecidas como “guardiãs da cruz”. Isso porque elas estão sempre próximas do Cruzeiro do Sul, como que guardando a cruz e apontando sua direção. São elas as estrelas mais brilhantes da constelação do Centauro e por isso mesmo são chamadas de Alfa do Centauro e Beta do Centauro.
Em cada constelação, as estrelas são designadas por letras do alfabeto grego (alfa, beta, gama, delta etc.), de acordo com o brilho que apresentam. Em praticamente todos os casos, a mais brilhante é a Alfa, nome da primeira letra do alfabeto grego; a segunda em brilho é a Beta daquela constelação; a terceira é a Gama, e assim por diante. Além disso, algumas estrelas do céu possuem nomes próprios.
Das cinco estrelas que formam o Cruzeiro do Sul, quatro delas, agrupadas duas a duas, representam as hastes maior e menor da cruz imaginada no céu. A haste maior é formada pelas estrelas Alfa e Gama do Cruzeiro. A Alfa do Cruzeiro do Sul simboliza o "pé" da cruz e é também chamada de Estrela de Magalhães. Esse nome é uma homenagem ao navegador português Fernão de Magalhães, que por volta de 1520 passou com suas embarcações perto da América do Sul e observou essa constelação no céu. Foi ele o primeiro navegador a comandar uma viagem ao redor da Terra.
A outra extremidade da haste maior da cruz é marcada pela estrela Rubídea (ou Gama do Cruzeiro). Ela recebe esse nome porque é nitidamente avermelhada, lembrando a cor do rubi, uma pedra preciosa. Por outro lado, a haste menor da cruz é formada pelas estrelas Beta (ou Mimosa) e Delta (ou Pálida) do Cruzeiro. Ambas são estrelas azuladas.
Além de Alfa, Beta, Gama e Delta, outra estrela se destaca na constelação do Cruzeiro do Sul. Não pelo brilho que apresenta, pois ela é menos brilhante do que essas quatro. Ela chama a atenção porque fica numa posição que parece atrapalhar o desenho da cruz no céu. Por isso mesmo, aqui no Brasil, é popularmente chamada de Intrometida. A Intrometida é também denominada Epsilon do Cruzeiro do Sul, por ser a quinta estrela de menor brilho da constelação -- e Epsilon é a quinta letra do alfabeto grego.
Apesar de "atrapalhar" a figura do Cruzeiro do Sul, a Intrometida é importante porque, unindo estrelas por linhas imaginárias, poderíamos desenhar muitas outras cruzes no céu. Mas nenhuma seria como o Cruzeiro do Sul, com a sua pouco brilhante, mas importante estrela Intrometida.
Se observarmos constantemente o Cruzeiro do Sul, poderemos, como também foi usado por vários navegadores, saber aproximadamente em que data estamos ou que horas são. Isso porque, dependendo da data do ano e da hora, o Cruzeiro do Sul fica mais próximo do horizonte ou mais alto no céu, a cada momento em alturas diferentes em relação ao horizonte. Isso acontece porque o nosso planeta gira em torno de um eixo imaginário, que passa pelos seus pólos norte e sul, como mostra a figura ao lado.
Esse movimento da Terra chama-se rotação e se completa a cada dia ou 24 horas. Enquanto a Terra gira, somos arrastados com ela em seu movimento de rotação, que se dá de oeste para leste. Nós não sentimos esse movimento, mas observamos todos os astros -- como o Sol durante o dia -- movimentarem-se em relação ao horizonte na direção contrária, ou seja, do nascente para o poente, ou ainda, de leste para oeste. E, se olharmos para o Cruzeiro do Sul, perceberemos que sua haste maior gira lentamente, como se fosse o ponteiro de um relógio celeste, em torno de um ponto do céu, chamado de pólo celeste sul. Para esse ponto está apontado o eixo de rotação da Terra.
O Cruzeiro do Sul é muito usado para que possamos nos orientar. E orientar significa saber qual é a direção do oriente -- que é a direção do Sol nascente.. Isso é fácil, porque o Sol nasce no horizonte leste todos os dias, e se põe sempre no horizonte oeste. Os outros astros, como as estrelas, também fazem esse movimento leste-oeste no céu.
Depois de descobrir a direção do leste, é mais fácil ainda encontrar as demais direções cardeais, que são importantes para sabermos para onde nos deslocarmos sobre a superfície terrestre. O oeste, por exemplo, é onde os astros se põem (se escondem). Ele fica na direção oposta ao leste.
Para achar a direção exata do sul... basta encontrar o Cruzeiro do Sul! Se tomarmos o tamanho da haste maior do Cruzeiro do Sul e o prolongarmos imaginariamente quatro vezes e meia, a partir de Alfa do Cruzeiro em direção ao sul, acharemos o pólo celeste sul. E, se a partir dele desenharmos uma linha imaginária na vertical, até o horizonte, encontraremos a posição exata do ponto cardeal sul.
Encontrado o ponto cardeal sul, no lado oposto estará o ponto cardeal norte. Se estivermos voltados de frente para o ponto cardeal sul, você já sabe, à direita estará o ponto cardeal oeste,e à esquerda, o ponto cardeal leste. Pronto, lá estão os quatro pontos cardeais! Por facilitar a localização desses pontos é que o Cruzeiro do Sul foi muito usado e ainda é. Por ele, podemos nos orientar em viagens noturnas sobre os mares ou em terra.
Entre março e setembro é possível ver o Cruzeiro do Sul no início das noites, em qualquer região do Brasil. Principalmente em maio e junho, ele aparece já alto no céu. Tente encontrá-lo. Vale a pena!
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