União dos
Escoteiros
Do Brasil
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A EDUCAÇÃO PELO AMOR SUBSTITUINDO A EDUCAÇÃO PELO TEMOR
Baden-Powell
Palestra de LORD BADEN-POWELL apresentada ao Terceiro
Congresso de Educação Moral (Publicado na revista Jamboree em janeiro de 1923)
– (Tradução de Américo Jacobina Lacombe) Ano de 1928
A PREDOMINÂNCIA DO TEMOR
Vendo um dia, num templo do Oriente, um Deus de três
faces, representando o Amor, o Ódio e a Paz, perguntei qual das três faces
tinha maior número de adoradores. Responderam-me que a maior parte das
oferendas era dedicada ao Ódio. Não que o povo desejasse o Ódio, mas o temor do
ódio dos outros fazia-lhe procurar a proteção do gênio do mau.
Parece um absurdo, à primeira vista,
que essa gente fosse assim dominada pelo temor. Mas, se refletirmos, não é o
medo, afinal, que rege a política em todos os países do mundo ?
Queremos paz, e por isso preparamo-nos
para a guerra, temendo o ataque do inimigo. Pregamos a paz, mas pelo terror dos
horrores da guerra. Na organização dos governos, se apelamos para a
representação das diversas classes, é que temos medo da legislação de uma
classe em particular. E,
em grande parte, praticamos o bem, pelo receio das conseqüências – de ordem legal ou sentimental – que se
seguem à descoberta das nossas faltas. O medo da pobreza obriga-nos a ganhar
dinheiro. E não é comum ser o temor o não o amor de Deus, a base da moralidade,
isto é, a superstição substituir a fé ?
No exército e na marinha, a pretendida
disciplina é obtida, principalmente com
ameaças de punição. E, antigamente, a educação dos meninos estava baseada no
mesmo princípio.
Os fortes serviram-se do medo como de
uma arma para aterrorizar os mais fracos.
UMA NOVA ORIENTAÇÃO SE IMPÕE
Os cristãos, quando rezam, pronunciam uma oração
chama de “Pai Nosso”. Esta oração fala em um Deus de quem somos todos filho. De um Pai –
não de um tirano – e diz que esperamos que ele possua um dia tudo o que lhe
pertence aqui na terra.
Deus é amor. É, pois, o reino do amor
que pedimos. E, no entanto, suportamos o
jogo do terror.
Não podemos nós, não satisfeitos de
rezar passivamente pelo reuno do amor, fazer alguma coisa que apresse a sua
vinda ? creio que sim.
Como diz o reverendo Alfredo Wishart: “
O homem é em grande parte, responsável pelo estado social existente”. E se esta
situação provoca a guerra, a pobreza, o
crime e a moléstia, é dever do homem remediar a esses males, fontes de
sofrimentos humanos
Mas os que são os agentes da desgraça
humana não reconhecem a sua
responsabilidade, porque dizem que a Deus é que compete salvar e curar. Esse
hábito de atirar para Deus a responsabilidade das condições de vida de que o
homem é, de fato, o responsável, engana os homens e impede a adoção dos
remédios adequados.
Para desarraigar o mal definitivamente,
é necessário substituí-lo por uma outra influência, pelo bem. Para abolir o
domínio do terror, é preciso substituí-lo por uma outra influência, não menos
poderosa.
Se nos casos acima citados, substituíssemos o temor pelo amor, veríamos
logo diminuir a pobreza, o crime, as moléstias nos respectivos países e, pela
mútua confiança, sem maldade e com boa vontade, a paz surgiria entre as nações.
A SITUAÇÃO ATUAL DA EUROPA AMEAÇA A MANUTENÇÃO DO MILITARISMO
A Guerra que devia matar a guerra,
concedeu a alguns Estados pequenos os dons preciosos da liberdade e da
livre-determinação. Mas, seguir-se o
efeito da lição que foi esta guerra, e , porque estes Estados temem pela sua
segurança, há agora (1923, quando o
artigo foi escrito) mais países armados do que em 1913. ¹
Alguns grandes exércitos de então, estão sendo
substituídos por numerosos exércitos de menos importância, mas que formam, no
total, maior número de homens armados. Isto é, muito mais centelhas prontas
para atear um incêndio.
Sistema da livre determinação levou certas
nações a exagerarem suas ambições nacionais quando, muitas vezes, elas ainda
não conseguiram se organizar. Não tiveram paciência de percorrer as lentas
etapas da evolução, preferindo os métodos mais revolução.
Em princípio, a revolução tem por fim
libertar o povo. Praticamente, ela se
tem manifestado, como uma das formas mais brutas do militarismo.
Não é a supressão dos exércitos que
acabará com a guerra, como não será a abolição da polícia que acabará com os
crimes. É preciso suprimir a causa da guerra: os exércitos são antes o efeito,
o resultado da desconfiança e do espírito combativo.
E entramos em pleno domínio da educação.
Até agora, quase sempre, quando uma dificuldade surge entre os povos,
acostumamo-nos a pensar na guerra. E a situação atual da Europa ameaça-nos a
ver continuar o reino do temor.
O ensino acadêmico mostrou a sucessivas
gerações a história nacional, como uma série de guerras vitoriosas, muitas
vezes omitindo deslealmente as derrotas, caluniando os inimigos ao mesmo tempo
que exaltando todos os atos de seus filhos, ainda que fossem simples atos de
pirataria.
Estaria chegado o momento de mudar tudo
isto: de ensinar às novas gerações as vitórias pacíficas de seu país, e de
ensinar-lhes a pensar nos outros países pacificamente.
URGE SUBSTITUIR A EDUCAÇÃO MILITAR POR UMA OUTRA EDUCAÇÃO
Pessoalmente, como soldado durante a maior parte da
vida, já ví alguma coisa dos horrores e da brutalidade da guerra, este
assassínio autorizado pelo homem, das criaturas de Deus, nossos irmãos – e já
ví também, os lares arruinados e os martírios das mulheres e das crianças
inocentes.
Por outro lado, pude também verificar
as magníficas qualidades de coragem que suscitam a guerra e a arte militar,
qualidades que se encontram, indiscutivelmente, nos jovens das nações mais
guerreiras.
A renúncia que exige a aceitação de uma
disciplina rude, a resistência, a leal camaradagem, o espírito de
solidariedade, o heroísmo e a energia com que os homens afrontam uma morte
certa pelos seus países, tudo isto, deve-se confessar, é uma conseqüência geral
da educação militar que desenvolve no homem a virilidade do corpo, da
inteligência e da alma.
Por isso temem alguns que a supressão
dos exércitos venha a atrofiar e mesmo extinguir essas preciosas qualidades
viris.
Em um notável artigo intitulado “O
Equivalente Moral da Guerra”, publicado no Atlantic Monthly Journal, William James admitia a idéia de que
era chegado o tempo de imaginar alguma coisa para substituir a educação com o
fim guerreiro; alguma coisa que conduzisse à paz, sem “desvirilisar” os homens, sem transformá-los
em poltrões.
A história da queda do Império Romano confirma a
força desta verdade. Por isso, algumas nações conservam ainda o serviço
militar, menos em vista da guerra do que como meio de educação e para preservar
a raça do desaparecimento das qualidades viris.
PODE UMA NAÇÃO
CONSERVAR SUA VIRILIDADE SEM O MILITARISMO ?
Poucos contestarão a necessidade da conservação da
virilidade e do caráter de uma raça. É necessário achar um meio de alcançar
esse fim, sem preparar os homens com um fim guerreiro.
W. James sugere uma solução para
desenvolver a resistência e a disciplina que teria, ainda, a vantagem de dar
ocasião às classes ricas e desocupadas para ganharem virilidade tal qual os
deserdados da fortuna. Ele quer o recrutamento durante um certo número de anos
de toda a mocidade do país, que trabalharia, não no exército, mas nas usinas de
carvão e de ferro, nos trens de carga, a bordo dos navios de pesca, na
construção de estradas, de túneis, nas fundições ou na construção de edifícios.
Não há dúvida que seria um meio
magnífico de desenvolver a existência dos rapazes. Resta saber até que ponto os
construtores e industriais estarão dispostos a educar, à sua custa, a mocidade
inapta.
Mas a resistência física não é a única
qualidade necessária. Sem dúvida, todos
esses trabalhos teriam a vantagem apreciável de enrijecer o indivíduo e de
abolir a separação das classes, mas de que modo contribuiriam para a formação
do caráter ? E é esta, exatamente, a necessidade mais premente da educação
futura.
A vida do mar, com as qualidades que
exige de disciplina, audácia, engenhosidade, com as ocasiões que oferece de se
por em contato com os povos estrangeiros e a facilidade de por em prática as
qualidades seria um meio a preconizar, sem dúvida, se todos esses trabalhos
pudessem estar ao alcance de todos. Mas a pequena extensão do comércio marítimo
reduziria-o a uma percentagem mínima.
O esporte internacional seria, também,
um bom meio de desenvolver a virilidade e a amizade recíproca.
Mas os operário e os fracos seriam
excluídos. De mais a mais, em todas estas soluções não se considera senão um
sexo – o masculino – quando o homem reparte, hoje, com a mulher, o trabalho do
mundo. Depende, mais dela que do homem, a saúde da alma e do corpo da geração
futura. A educação racional da mulher é,
pois, de importância no mínimo igual à do homem. Ela precisa receber o
mesmo desenvolvimento.
A AUTO-EDUCAÇÃO DO CARÁTER É POSSÍVEL
Não teremos nós para apresentar aos
jovens, ideais que, sem inculcar gostos guerreiros e sanguinários, lhes
despertem aspirações viris, a admiração da coragem e da audácia, da
independência e do heroísmo, da abnegação e de costumes cavalheirescos ?
Perguntemos aos rapazes quais os livros
que lêem. Eles lêem, é verdade, descrições de batalhas e de combates, mas se
perguntarmos quais os preferidos, responderão que apreciam muito mais as
aventuras em terra e no mar, explorações dos sertões, as grandes caçadas, a
vida nos campos, a aviação e outras narrações em que aparecem as virtudes viris.
E mesmo que não saibam ou não gostem de ler, são raros os rapazes que
não imitem em seus jogos ou brinquedos dos heróis destas histórias.
Qual o rapaz que não tem interesse
pelas artes, pelos costumes, e os hábitos dos índios ou Zulús ? O prazer de construir
um barco, de explorar uma terra desconhecida, de realizar ascensões em
montanhas altas, de colecionar objetos de história natural pelos matos, o
campismo, a ciência das florestas, os trabalhos dos pioneiros, tudo isto os
entusiasma.
É preciso saber servir-se de todos
esses atrativos para “dourar a pílula” da educação. A educação, tal como a
entendo, não consiste em introduzir no cérebro da criança uma certa dose de
conhecimentos, mas sim, em despertar-lhe o desejo de conhecer e indicar-lhe o
método de estudo.
Além da formação puramente escolar, a
educação moderna procura desenvolver o caráter, a habilidade técnica e a saúde
do corpo. Esse desenvolvimento poderá
ser alcançado por meio das atividades enumeradas acima, desde que se elabore um
sistema inteligente e hábil.
Vejamos, ainda, que a vida ao ar livre,
com suas ocasiões de estudar as coisas da natureza, o campismo, as explorações,
a cartografia, os “croquis” feitos em excursões, tudo isso não atrai menos
vantagens para os moços. É, pois, a mocidade do mundo inteiro que está a espera
dessa educação viril, pronta para recebê-la, bastando, para isto, ser posta ao
seu alcance.
E esta educação seria uma auto-educação
voluntária, em que a mocidade colocaria toda a sua energia e todo seu
entusiasmo.
Esta instrução poderia ser dada fora
das horas de aula, pois não convém que os estudos escolares fiquem prejudicados
– durante o tempo de folga, durante o qual, tão comumente, ocupações
inconvenientes vêm comprometer o trabalho realizado na escola.
A idéia que expomos deverá ter, pois, a
aprovação dos professores.
RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Mas há ainda, maiores horizontes a desvendar. Se
quisermos pôr término ao reino do terror e instaurar a paz no mundo, o remédio
será antes a educação da nova geração em vista das boas relações
internacionais, do que uma legislação de limitação de armamentos, para a qual
tendem vários países atuais.
Os ideais e os modos de atividade a que me referi
acima, têm o mesmo atrativo para rapazes e moças de qualquer nacionalidade.
Todas as crianças do mundo se assemelham bastante,
psicologicamente falando, até o momento em que, crescendo, se orientam em
diferentes direções, segundo os meios diversos.
Elas se assemelham,
primeiro, no ardor com que recebem as idéias e com que se dedicam às
ocupações da sua idade que realmente lhes interesse. De modo que, para aplicar
uma educação universal, temos, neste entusiasmo, um terreno preparado, graças
ao qual estamos com metade da obra realizada.
Em vez de recrutamento, teremos o esforço voluntário
da mocidade.
Graças à comunhão de interesses, ao intercâmbio mais
fácil, e uma grande semelhança de sistemas de educação, as particularidades
nacionais apagam-se dia a dia, e tendemos, de um modo mais efetivo, para a
realização do bem geral do mundo.
Já se realizaram, mesmo, experiências no terreno de
uma educação internacional.
Uma formação uniforme, no campo das atividades que
indiquei, não parece, pois, uma coisa irrealizável, contando que ela receba uma
boa animação e que se faça a propaganda necessária.
Cada país tem seus jogos nacionais que são
conhecidos pela mocidade. Se pudermos colocar as atividades que falei no mesmo
nível que os jogos nacionais não haveria menino nem menina que não se
interessasse.
Não seriam somente os mais fortes e mais vigorosos
que se entusiasmariam, pois esses exercícios são tão variados que mesmo os
fracos, física ou mentalmente, aproveitariam tudo de que fossem capazes e não
poderiam senão lucrar.
Se conseguíssemos, pois, fazer adotar esses exercícios
em várias nações, não beneficiaríamos
somente a saúde física e moral da mocidade, mas por meio dos interesses
comuns, essa mocidade cresceria em um ambiente de compreensão mútua muito mais
largo e uma nova simpatia pelos outros povos.
Teríamos então alcançado o nosso ideal de fazer a
mocidade pensar “com sentimentos de paz”, sem contudo abdicar de suas
qualidades viris.
FORMAÇÃO ESCOTEIRA : MASCULINA E
FEMININA
Essa pergunta já pode ser respondida. O projeto foi
realizado. Ainda que jovem, o escotismo, quer masculino, quer feminino, conta
atualmente, (1923) com dois milhões de membros entre as novas gerações dos
diferentes países do mundo. Há escoteiros de quase todas as regiões.
Já formam eles uma fraternidade verdadeira, tendo
como objetivo a valorização do indivíduo para melhor servir a todos. Haverá
programa cívico mais elevado ?
Mas, disse eu, o movimento é ainda novo,
insuficientemente conhecido e compreendido em certos países. Eis porque passo
agora a expô-lo, indicando as possibilidades que ele compreende.
O princípio sobre o qual repousa a organização é o
mesmo para menino e meninas, ainda que os detalhes sejam diferentes.
Do mesmo modo, para todas as idade das crianças o
princípio é sempre idêntico, mas as aplicações diferem. Há, pois, uma
progressão. E mais ainda, esse princípio dá, e tem dado, os mesmos resultados
em todos os graus sociais, desde os mais elevados aos mais baixos. Tende,
portanto, a fazer desaparecer as distinções de classe.
INSTRUÇÃO
Em cada uma das seções, a instrução é
orientada em vista de quatro objetivos principais. Ela tem por fim desenvolver:
1) O caráter e a inteligência, isto é, a
virilidade e o sentimento de responsabilidade individual
2) A habilidade manual, isto é, uma
habilidade e um espírito inventivo pessoais.
3) O hábito de servir ao próximo, isto é,
a cooperação e a boa vontade coletiva.
4) A saúde e o vigor físico, isto é, a
energia individual, a resistência a alegria de viver.
O método consiste em obter do jovem que ele
desenvolva essas qualidades por si próprio, em virtude de um incentivo pessoal
interior e não por um ensinamento exterior imposto.
As atividades se apresentam de várias
formas: exercício ao ar livre, jogos de conjunto, vida nos campos, etc...
Por exemplo – Quer-se desenvolver a
faculdade de observação – um dos elementos constitutivos do caráter –
ensinar-se-á a arte de seguir uma pista. É um estudo tão atraente quanto útil.
OPINIÕES AUTORIZADAS
Esse programa não é uma utopia pois já foi posto à
prova e praticado em muitos países. E mais ainda: foi calorosamente aprovado em
toda a parte pelas maiores autoridades em educação.
Contentar-me-ia em citar dois exemplos entre os
numerosos testemunhos que possuo.
O Deão Russel professor de pedagogia na Universidade
de Columbia (New York) escreve:
“É certo dizer que o programa escoteiro contempla o
trabalho da escola. Está organizado de tal modo, que quanto mais o
estudardes, professores, mais vos
convencereis de que quando ele nasceu, havia sido uma enorme descoberta. O
programa escoteiro é a tarefa de um homem reduzida ao tamanho da criança.
Atrae-a, não só como criança, mas ainda como homem em formação. É este
exatamente o ponto que produziu a falência de tantas organizações da mocidade.
O programa escoteiro não exige da criança nada que
não constitua tarefa de um homem; mas a conduz do ponto em que a encontrava ao
que ela deseja alcançar. E o método escoteiro é ainda mais admirável que seu
plano. Há qualquer coisa neste método,
ouso dizer, que não se encontrará mais em parte alguma. Meus amigos,
como conselheiro da mocidade, quero vos dizer: é minha sincera convicção, que
nossas escolas não estarão à altura do nosso ideal se não lhe inocularmos
(injetarmos), tanto quanto possível, o espírito e o método escoteiro; e se não
fizermos com que o maior número possível das horas de lazer dos nossos rapazes
sejam empregadas em um programa tão completo”.
O professor Russel diz ainda que está convencido de
que quando os professores compreenderem seus deveres para com o Estado, quando
compreenderem do que precisa o povo e o que é necessário que ele obtenha,
quando medirem a profundeza do próprio patriotismo, quando se compenetrarem que
sobre eles, mais que qualquer outra classe, repousa o futuro da pátria, não
deixarão de lado sem ter experimentado, o instrumento que produz esses
resultados.
Edmundo Holmes, o conhecido educador inglês, em seu
último livro “Donnez-moi la jeunesse” demonstra esta tese “ a prática deve
proceder a profissão” e insiste na idéia de que, para corresponder às
necessidades atuais, a educação precisa ser radicalmente reformada.
O método antigo pecou pela base porque desenvolvia
no aluno o medo da punição, o desejo da recompensa, a vaidade e o espírito de competição, em vez
de desenvolver a necessidade inerente à criança de se expandir e se manifestar.
E, para exemplificar o que ele
desejaria estabelecer, escreve “É
preciso procurar os princípios gerais que devem ser colocados na base da escola”.
Em seguida, acha que uma indicação seria digna de
ser seguida:
“O movimento escoteiro é o esforço mais profícuo que
se tem realizado no terreno da educação dos adolescentes. E o seu sucesso é
devido à habilidade com que responde a
suas necessidades imperiosas da natureza humana: a necessidade de trabalhar
para formação de si próprio e a de trabalhar como se para os outros.
Na filosofia da educação escoteira há sempre
equilíbrio entre o “eu” individual e o “eu”
coletivo. Conseguir e manter esse equilíbrio tal deve ser o principal
objetivo de todos que se interessam pela educação da mocidade.
Aprender agindo e contribuindo para a formação de si
próprio e não recebendo passivamente as idéias de outrem, eis o princípio. Era
a esse princípio que se referia o professor austríaco Cisek , quando,
respondendo a alguém que lhe perguntava
como obtinha de seus alunos resultados tão espantosos, disse: “Abro-lhes as
portas, os outros professores fecham-na, eis a diferença”.
Como observa o Sr Edmundo Holmes, esta diferença é
quase a diferença entre o bom e mau método de educação.
CONCLUSÃO
Há algum tempo que a ciência da educação estendeu o
seu campo de ação muito além das paredes da escola e, especialmente, tomou uma
expansão internacional. Procurei demonstrar, aqui, como um sistema de educação
voluntária, baseado na boa vontade e no serviço mútuo, poderia ser estabelecido
em relação à educação escolar ou em revolta contra uma disciplina de repressão,
ou na satisfação de todos os seus caprichos.
Se esse novo método aplicado aos dois sexos fosse
suficientemente propagado, exerceria, sem dúvida, uma influência visível sobre
o caráter e o bem geral de uma nação.
Ele daria à atividade uma direção nova e
contribuiria grandemente para a abolição da diferença de classes, para a substituição
do temor pelo amor, as desconfianças pela mútua simpatia, a guerra pela
paz.
Esse método procuraria formar carateres
independentes, fortes, cavalheirescos, ao mesmo tempo que encorajaria a
atividade o e desenvolvimento físico. Seria, pois, capaz de desenvolver nos
rapazes uma virilidade nova e nas meninas um caráter mais forte. Seria um
substitutivo para a educação militar e as proezas guerreiras tantas vezes
exaltadas.
Se pudesse este método ser animado em todos os
países, de modo que no mundo inteiro a nova geração se sentisse reunida por um
vinculo intangível, contribuiria, notavelmente, para a abolição da guerra e a
inauguração dessa era tão desejada de paz e de boa vontade entre os homens.
Fim.
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